Em Silêncio No Vazio

 "Algumas pessoas sentem que não merecem amor. 
Elas afastam-se silenciosamente por entre espaços vazios, 
tentando encerrar as lacunas do passado."



Alexander Supertramp, in "Into The Wild"

Ser Indigno

Fosse eu merecedora de tal dádiva
E a porta do meu mundo abrir-se-ia
Para te receber
Fosse eu digna da tua presença
E a luz da minha alma renasceria
Para te venerar
Felicidade!
Procuras tu o suicídio
Se de mim te aproximas!
Não faças de ti uma mártir
Para que eu, ou outro, me veja sorrir,
Não esbanjes o teu precioso tempo
Para que a vida em mim ganhe algum sentido,
Não desperdices a tua grandiosidade
Para que o meu ser alcance a redenção...
Não dês alento em vão
A quem há muito desistiu.
Não cruzes a linha do destino
De quem desdenha a esperança.

Virando Costas Ao Mundo

Virando costas ao mundo
Deixando-o com a sua amante
Essa meretriz de nome sociedade
Gorda parideira de almas regradas
Enfiadas em corpos roçando a perfeição
Rebentos pródigos veemente atiçados
Vírus petulantes de infecção e contágio
Para vergarem os ímpios e os resistentes
Para moldarem os diferentes e os disformes
Para me conterem no seu dócil rebanho...
De costas voltadas
Num orgulho erecto e altivo...
Que ressoem as más-línguas inimigas
E mas tatuem de críticas e ameaças
Que se aproximem as unhas venenosas
E mas cravem de espinhos e maldições
Que venham as vergastadas das gentes
E mas pintem de sangue e chagas
Pois contra minha alma e meu coração nada poderão...

Bela Morte

Vem, seduz em momento oportuno.
Alicia muitos com as tuas ofertas,
Aquelas que a tua comparsa Vida não traz.
Coloca sobre a menina do olho
O teu olhar de vazio completo.
Arruína os sonhos, ceifa os pesadelos,
Permite dormir o sono apetecido,
Anulando as imagens e as insónias
Absorvidas na imensidão da escuridão absoluta.
Sussurra ao ouvido que a hora chegou,
Uma tentação na tua voz de diva.
Oculta ruídos do mundo, abafa vozes internas,
Permite o desvanecer da loucura,
Arredando as mentiras e as verdades,
Até o silêncio absoluto se abater.
Envolve o corpo esgotado e débil
Nos teus braços esguios e gélidos.
Suga o que resta da sua força agonizante,
Impede-o de albergar demais mazelas,
Eliminando as cicatrizes e as dores,
Com a dádiva da cura absoluta.
Arrebata alma e coração
Com a tua mão de toque mortal.
Derrete o gelo e funde o ferro
Nas labaredas profundas do inferno.
Faz desaparecer as consciências e os sentimentos,
Oferecendo bilhete de ida para a liberdade absoluta.

Liberdade É Utopia

Aprisionados
Nas masmorras do tempo e da memória
Solidamente alicerçadas nas fraquezas da mente
Emboscados
Nas jornadas incertas em busca de sonhos
Prosaicamente desfeitos em ardis humanos
Fragilizados
Nas teias enredadas das emoções sortidas
Desmedidamente à mercê das mãos que as tecem
Industriados
Nas linhas de produção maciça das aparências
Comodamente ocultos na futilidade dos acessórios
Adormecidos
Nas vocais sibilantes dos colossais senhores
Penosamente vergados à sua lei terrena